domingo, 4 de novembro de 2012

Despede-se com o sol



  O Sol se despedia enquanto dezenas de pessoas o assistiam ir lentamente. Parei para pensar nesse trajeto diário do Sol, nessa rotina interminável de ir e vir todos os dias e no fato de nós muitas vezes nem darmos importância a isso. Estávamos ali esperando o anoitecer, a brisa do mar tocava nossos rostos e eu sentia braços ligeiramente trêmulos me envolvendo com uma ponta de desespero, eu diria. O Sol ia embora e parecia me levar aos pouquinhos, o clima era de despedida e apesar da melancolia no ar, eu sorria. Uma mistura de sensações e sentimentos que me deixaram inerte, atônita.
  Pensei em cada pôr-do-sol que perdi, em cada vez que deixei de ver aquele belo espetáculo. Era a primeira vez que eu via isso, assim, com alguém do meu lado. Também era a primeira vez que eu me sentia tão bem guardada em alguém, leve que só. Mantive meus olhos fechados por alguns segundos, só para deixar cada um dos outros sentidos trabalhar. Minha audição captava vozes, sussurros, como os de alguém que não quer atrapalhar um filme bom ao fazer um comentário fora de hora. Meu tato registrava cada centímetro da pele lisa e macia dos braços de quem agora me apertava contra o corpo, como se não quisesse me soltar para partir. Sentia no paladar um gosto agridoce, um gosto que eu ainda não conhecia. No meu olfato, "cheiro de mar", cheiro que eu adoro, aroma de vida boa, sabe? Mas ao mesmo tempo eu sentia um perfume doce no ar, "cheiro de amor", assim o defini.
  Abri os olhos, o Sol já estava quase indo embora de vez, esse era o seu último adeus. Essa era a hora em que o Sol nos deixaria para brilhar para outras pessoas, em outros lugares. Mesmo sabendo que ele voltaria logo, aquilo era uma despedida e depois de um dia inteiro achando "natural demais" o ter brilhando sobre nós, agora percebia a importância que ele tivera nas horas em que esteve ali. Tal como o Sol naquele momento, pensei em tantas as vezes que percebi a importância de algo apenas quando ela já estava partindo e quase chorei.
   Fechei os olhos por um instante e ouvi alguém dizer baixinho ao pé do meu ouvido: "Eu te amo muito." Senti um misto de felicidade e dor, tristeza inevitável. Retribui as palavras, exteriorizando o amor que eu também sentia e apertei, apertei com força aquele alguém que fazia eu me sentir assim, viva. "Obrigada por isso." eu disse baixinho. Então ouvi palmas, o público aplaudindo ao fim daquele espetáculo, o Sol se foi. Eu estava indo junto com ele, mas assim como o Sol eu voltaria também, logo.

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